5 de setembro de 2005

crackdown

crackdown: "Nunca estive em Nova Orleães. A imagem que tenho da cidade é aquela que os livros, os jornais, a televisão e os filmes me permitiram “construir”. A traço muito grosso, uma cidade de confetti e mardi gras, em que há funerais a pé acompanhados por negros que sopram instrumentos vários ao ritmo sincopado de velhas melodias “tribais”; uma cidade baixa, negra e boémia, muito pobre mas com a alegria falsa do vaudeville, de costas voltadas para a cidade alta, de vivendas colonial american enfeitadas ao estilo boudoir, em que damas brancas de pele encarquilhada beberricam chá gelado ao som irritante de grafonolas perdidas no tempo, enquanto suspiram envoltas em nuvens de fumo que saem de conspícuos cigarros pendurados em boquilhas de meio metro. É Hollywood no seu esplendor, bem sei, mas amigos que por lá se perderam há uns anos reconhecem que basta retirar ao quadro a magia do celulóide, pintar-lhe as cores agrestes deste século da tecnologia e da indiferença humana, e tudo o resto pode resumir-se à dicotomia simplista que o nosso imaginário construiu."

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