15 de fevereiro de 2007

O novo Público

O melhor do Público esta semana é mesmo a possibilidade de abrir e guardar a edição do dia em versão PDF. É provável que se trate de uma oferta de duração limitada, mas é positiva, porque permite aos leitores em linha explorarem o novo grafismo do Público. Agora, só falta dar um novo fôlego à versão em linha do jornal, que existe desde 1998 (pelo menos) e, tudo indica, é mais consultada e lida que a versão em papel.

O menos bom do Público em linha começa logo pela primeira página, que se encontra sobrelotada de elementos, todos a competirem pela atenção do leitor.

O atulhamento de mais funcionalidades, ligações e componentes não ajuda em alturas de maior intensidade no tráfego, como se viu na passada segunda-feira, em que a página esteve inacessível por causa do elevado número de visitantes que acorreu ao Público após o sismo, e que foi reencaminhado para a versão apropriadamente designada de "ultra-leve".

O Público é um dos poucos órgãos de informação portugueses que conseguiu adquirir uma presença na internet que a maioria das pessoas reconhece como sendo de referência e actual. Vale a pena pensar como pode ser melhorada:

(ler mais, depois do salto)


. Melhorar a navegação e aligeirar a página inicial (repensar as secções existentes e a dispersão de "iniciativas" e "formatos"), ao ponto de tornar a versão "ultra-leve" desnecessária em futuras ocasiões.

. Reforçar a hierarquia das notícias (através da utilização de fotografias e de destaques mais reforçados). O actual alinhamento das notícias (por listagem, com as notícias mais importantes no topo) pode ser reaproveitado de uma maneira mais apelativa.

. Ao invés de atulhar a primeira página com chamadas de atenção a todos os especiais, dossiers e blogs alguma vez preparados pelo jornal, organizar esses elementos por tema/secção (uma página que reúna todos os blogs, todos os dossiers, etc) e dar apenas destaque na 1ª página aos mais recentes e pertinentes.

. Conceder maior destaque à fotografia na primeira página e nas páginas interiores dos artigos, como faz o NYT ou a MSNBC. É em linha que a fotografia realmente se oferece a usos mais criativos e originais.

. Refazer novamente a maneira de consultar em linha a versão impressa. A navegação por páginas é complicada e demasiado linear (é duvidoso que a maioria das pessoas folheie a versão impressa do jornal de seguida, sem saltar secções e textos).

. Tornar mais claras as vantagens de ser assinante do jornal.

. Não reverter ao modelo de acesso pago ao conteúdo do jornal. Se falta alguma coisa ao Público em linha é, por incrível que pareça, um esforço de monetização através da publicidade. E, importante, deixar os artigos gratuitamente acessíveis durante, pelo menos, uma semana, caso contrário, não é mais do que espuma dos dias (não faz sentido fazer hoje ligações para artigos que amanhã já não estarão em linha). Só se isso acontecer é que fazem verdadeiro sentido as estatísticas referentes aos artigos mais comentadores e recomendados pelos leitores (no NYT, só ao fim de alguns dias é que alguns artigos são impulsionados para o topo dessas listas).

. Aconteça o que acontecer, não seguir de perto os exemplos do Times e do Guardian. Olhar antes para o New York Times.

. Interagir com a blogosfera, um dos seus interlocutores por excelência em linha, que passa, por exemplo, em convidar autores de blogs a assinar peças de opinião e transformar a versão em linha numa espécie de "sandbox" (caixa de areia) onde os jornalistas e colaboradores do jornal podem abordar e comentar temas para os quais não existe espaço na versão impressa. É uma abordagem que não passa por "dar" blogs aos jornalistas da casa, mas antes por abrir mais o Público aos seus destinatários e colaboradores. Na internet, não falta espaço para essa abertura.


1 comentário:

Fliscorno disse...

Em muitas páginas, 75% da área é ocupada pela foto do artigo. Só me ocorre pensar que quem tem pouco para escrever, .... escreve menos. No editorial do Público sobre o novo jornal é dito "A pressa da vida moderna nem sempre tolera espaço e tempo para o prazer de ler jornais." Com efeito, com as enormes fotografias e a cores, o jornal desfolha-se mais do que se lê, tornando-se compatível com essa pretensa vida moderna em que não há tempo para ler nem para pensar. Não considero que a nova cara traga mais valias.